Como contar uma história para crianças

Toda criança gosta de uma boa história, mas para ser uma boa história não basta apenas ter bom enredo, ela também precisa ser contada de uma maneira interessante.

Contar uma história e manter os olhinhos dos pequenos grudados nas páginas dos livros não é tão simples quanto parece, mas é totalmente possível se você souber usar os recursos certos.

1) Preste atenção na entonação e no volume da sua voz ao narrar

Não importa se você está lendo a história em um livro ou se está contando de memória, desde que saiba trocar a entonação da sua voz e manter um bom volume, a plateia cativa está garantida.

Voz alta e entonação são muito importantes porque ajudam a manter a atenção das crianças presa ao que você está dizendo. A dinâmica é criada com o aumento gradativo ou abrupto do som, juntamente com o controle das pausas.

Exemplo de leitura dinâmica:

Para entender melhor o que estamos falando, tente ler em voz alta o trecho abaixo e depois escute e observe como fazer a entonação de maneira correta:

– Existe um país onde as pessoas quase não falam. Nesse estranho país, é preciso comprar as palavras para poder pronunciá-las.

GRAVAÇÃO 1

Note como algumas palavras são valorizadas com o controle do volume da voz como “quase não falam”. Isso cria um clima de mistério e curiosidade em torno do enredo.

Como contra exemplo, observe a gravação abaixo, onde nenhuma entonação é usada.

GRAVAÇÃO 2

2) Mude a sua voz ao fazer personagens diferentes

Outro recurso muito importante tanto para que a criança entenda a história como para que se interesse por ela é alterar o timbre da voz a cada personagem diferente.

Observe o exemplo abaixo:

GRAVAÇÃO 3

– ACHEI A PARTE QUE FALTAVA EM MIM! Asse o pudim! Faça o quindim!

(mudança de personagem)

“Espera aí. Antes que você asse o pudim e faça o quindim. Não sou a parte que te falta. Não sou parte de ninguém. Sou parte completa. E ainda que eu fosse a parte que falta em alguém, não acho que seria a sua.”

Se você não está muito acostumado a explorar os timbres que a sua voz pode ter, vá até um espelho e treine fazer vozes agudas, fanhas, graves, lentas, rápidas e sussurradas. Outra dica para ter sucesso com esse recurso é investir em vozes bem graves para fazer os vilões, as crianças adoram!

3) Faça perguntas instigantes sobre a história

As perguntas feitas na hora certa tem o poder de instigar a curiosidade e o raciocínio lógico para uma compreensão mais profunda da história. Além disso, são essenciais para o desenvolvimento de uma boa interpretação de texto e para a expansão do vocabulário.

Antes de começar a ler:

Ao estar com o livro em mãos sempre comece explorando a capa:

Olhando para essa figura, sobre o que você acha que vai ser a história?

Quem você acha que escreveu esse livro? Aponta pra mim onde está escrito isso!

Leia a sinopse, na parte de trás do livro, e pergunte se a hipótese sobre o que a criança achava que iria ser a história se confirmou.

Depois de começar a leitura:

– Fique atento a palavras difíceis e sempre pergunte sobre o significado delas

– Explore o significado de expressões de linguagem como “bateu as botas” ou “cor de burro quando foge”

– No meio da história, se você notar que a criança se distraiu, pergunte para ela o que aconteceu até ali.

– Explore os desenhos. Às vezes informações importantes estão ali e complementam o sentido do texto.

– Pergunte sobre o sentimento dos personagens: como ele se sentiu depois disso? Como você se sentiria?

– Explore finais alternativos. Você gostou do final? Tem outra ideia para acabar essa história? O que você gostaria que tivesse acontecido?

– Pergunte sobre as ações e reações durante a narrativa: você acha que ele fez certo? Como você reagiria? O que ele poderia fazer? Quais as opções?

4) Usando outros recursos

Uma história não precisa ser contada necessariamente por meio de um livro. Existem outros recursos como objetos, sons e slides que podem ser usados para despertar o interesse e envolvimento dos pequenos. Esses recursos, inclusive, são ótimos para que a experiência seja mais completa e mais sentidos, como o tato e o paladar sejam ativados.

Mochila com objetos

Coloque em uma mochila todos os objetos que representam as ideias principais da história e vá tirando, um a um, a medida que conta.

Exemplo:

“Era uma vez um rei muito poderoso que vivia em um reino repleto de abelhas”

Tire uma coroa de papel dourado de dentro da mochila e depois um pote de mel, as crianças podem provar o mel.

Desenhos no varal

Imprima ou desenhe as imagens da história e coloque em um varal na medida em que vai contando. O interessante nesse recurso é que tudo que acontece fica visualmente disponível para criança.

Rolo de papel na história

O rolo de papel é bem parecido com o varal, só que ao invés de pendurar os desenhos, você vai desenrolando a história que vai estar desenhada ou impressa em um rolo de papel A4. As crianças também adoram esse modelo.

Música

Você pode contar uma história através de uma música, como nesse exemplo abaixo:

Ou usar elementos sonoros para fazer efeitos especiais enquanto narra.

Exemplos:

Chuva: peça para que as crianças estalem os dedos ou façam “shh” com a boca

Tempestade: peça para as crianças batam os pés

Passarinhos: peça para que assobiem

Outras ideias:

  • Marionetes
  • Fantoches de dedo
  • Teatro
  • Bonecos de palito
  • Maquete de isopor com bonequinhos presos no palito

Por que contar histórias para seu filho ou aluno é tão importante?

Escutar histórias é muito importante para o desenvolvimento do cérebro infantil. Escutando histórias uma criança pode treinar o controle da atenção, criar intimidade com o mundo da escrita e da literatura, compreender ideias e conceitos da vida real e desenvolver sua criatividade.

Toda boa história tem elementos temporais (início, meio e fim) e elementos de enredo (conflito, clímax e resolução) isso, por si só, já é suficiente para estimular tanto o raciocínio lógico quanto o emocional. Se você observar, é nas histórias que as crianças, e até nós mesmos, projetamos medos, dúvidas e alegrias e, dessa forma, treinamos para reagir aos acontecimentos da vida.

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